terça-feira, 30 de março de 2010

Uma sinfonia ainda mais AMARGA

Uma porra de um soco na boca do estômago. Sempre quis usar essa expressão, mas ela nunca me pareceu sincera o suficiente até escutar o terceiro disco do Guidis. Ou melhor, dos SUPERguidis. Afinal, se a marca de calçados é hoje parte da representatividade da juventude das décadas 1960 e 1970, os guaibenses merecem, certamente, um título especial entre os recém-adultos do início do século XXI.

O reconhecimento da banda na cena alternativa pelos dois primeiros trabalhos, já demonstrava a paudurescência dos caras (paudurescência. Sempre quis ELOGIAR algo desta forma. E podem me chamar de guei). Mas o terceiro trabalho, homônimo ao grupo, mostra que eles vieram para marcar lugar no rock nacional.

E não há como discordar de TODAS as resenhas escritas até agora. O Superguidis, de 2010, mostra amadurecimento. E, principalmente, nos faz entender que crescer dói. Pra todo mundo. E que o mundo das responsabilidades não espera até nos sentirmos prontos.

Assim, o álbum dos triângulos abre com Andrio Maquenzi explicando que "quando se quer esquecer o que o Roger Waters disse em setenta e três" é preciso ter em mente que não há volta. Que o que passou deve ser deixado para trás. Mas este é só o primeiro baque para aqueles que esperavam a energia teenager de A Amarga Sinfonia do Superstar ou do disco de estreia, de 2006. No lugar da guitarreira grunge-powerpop-indie, a abertura vem no tom melodramático de alguém que viu que tudo o que acreditou na adolescência já não serve para mais nada. Um conjunto de cordas – falso – completa o clima, fazendo nos sentirmos passageiros de um navio naufragando, onde não há nada para se fazer a não ser esperar que o fim seja breve e sereno.

Mas a abertura é um grande engodo para a volta do 'bom e velho' estilo superguidiano. "Não Fosse o Bom Humor" tem título auto explicativo. "Visão Além do Alcance" é, talvez, a letra mais legal do disco, mesmo sendo completamente nonsense. O verso "com tanto artifício assim é difícil ser você mesmo" parece sintetizar em uma frase como é chegar perto dos 30 - e estar recém saindo da adolescência - em anos em que tudo parece superficial e falso.

"As Camisetas" e "Fã-Clube Adolescente" trazem a comprovação que, mesmo quando a gente cresce, não é possível se livrar da adolescência de uma vez só. “Camisetas”, inclusive, é para ser cantada na fossa, afinal, todo mundo se pergunta "por que será que sempre chove quando alguém te abandona?", não?

"De mudança" é, sem dúvida, a melhor faixa, no conjunto instrumental+letra. Traz o medo, as dúvidas e todas as expectativas de um casal que resolveu tentar a vida juntos. Das 11 faixas, merecem destaque, ainda,”Quando se é Vidraça”, que - explicando para aqueles que nunca aprenderam a fazer interpretação de texto nas aulas de português - tenta comprovar a tese de que ser pedra é fácil, o complicado é ser vidraça; "Nova completa", praticamente uma homenagem a todos aqueles cansaram de perder as coisas que mais prezava na vida; e "Aos Meus Amigos", trazendo o alento de que por mais furada que esteja nossa canoa, não estamos sozinhos.

No mais, Superguidis traz um peso nos instrumentos incomuns, até então, para o som da banda e uma obscuridade - muito culpa do tal falso conjunto de cordas - que, no futuro, poderá a torná-lo conhecido como um ÁLBUM CONCEITUAL.

Mas quem se importa com essas bobagens quando se está vivendo o turbilhão de dúvidas que as pessoas insistem em chamar de MATURIDADE? Alguém?

* Fagner Marques/O Dilúvio

domingo, 28 de março de 2010

Superguidis 3, "um registro do mundo"

Eu sou chato.

Isso é um fato. Ou você amigável leitor acha que eu tenho un blog, podcast, rádio na internet, flickr, twitter e escrevo compulsivamente por horas durante o dia por que sou uma pessoa cheia de convívio social...

Aspergiano que sou meu convívio é zero e meio, e as pessoas que passam algum tempo ao lado de minha presença tendem a me considerar desagradável. Eu e Morgan Freeman...

E eu não sou um cara legal que faz papel de chato, eu sou realmente um pé no saco. Seja pelas convicções levadas ao pé da letra, seja pela falta de sorrisos fáceis ou pela ranzinice e má vontade com música nacional...

Confesso eu não gosto, não me cai bem nos ouvidos ouvir palavras em português sendo cantadas em três acordes. As únicas bandas nacionais que foram capazes de me fazer gostar um pouco do chamado rock nacional foram Os Mutantes (em preto e branco), Paralamas do Sucesso, Cachorro Grande, Black Drowing Chalks, Forgotten Boys (esses dois ainda quase não podemos contar porque a maioria das músicas são cantadas em inglês), Holger (que também se encaixa nos parenteses ao lado), Tom Zé (porque ele é punk sim senhor....) e o Ultraje à Rigor, porque toda a bandinha indie que faz letras engraçadas tipo Fratellis tem um pouco de Roger Rocha Moreira correndo nas veias. Mais nada...

Mais nada a não ser a última leva de cérebro que assolou o país com Chico Science, Mundo Livre, Raimundos (em preto e branco) e Planet Hemp.

E é mais nada mesmo. Não me venha com essas bandas de hoje em dia que aparecem nos canais de clips cuspindo água mineral Evian para cima e se dizendo hardcores. Essa embalagem feita de franjas desconexas que tem a rebeldia de meninão criado com a avó em apartamento de Alphaville. Não desce esse tipo de som igual que todas as bandas de rock nacional andam fazendo, muito menos todos os pretensos medalhões nacionais. Eu não gosto de NxZero, não gosto de Fresno, não gosto de Cine. Eu não gosto de padre, não gosto de madre e eu não gosto de frei. Nada dessas bandas que carregam multidões em feiras agropecuárias, nada que ganha revelação ou aposta na MTV me faz perder trinta segundos do meu tempo. Para mim é tudo embalado em rebeldia que não existe, em acordes chupados de bandas gringas que são tão ruins quanto essas. Tudo é muito igual, o choro é vazio e a fúria termina onde começam os flashes da revista Caras. E não me venha dizer que os Los Hermanos são originais porque eles também não são. Procure Cartola, Tom Jobim, Radiohead, Pavement e depois se você escrever uma música pode mandar para os barbudos e pode ter certeza que eles gravam.

Duvida? Escuta Paquetá do disco 4 e Nothern Lights do Super Furry Animals, e me diz...

Mas eu sou chato, ranzinza, tendencioso com aquilo que gosto, mas eu não vou te obrigar a ler esse blog, muito menos a gostar do que eu gosto. Porque se não você não seria você.

E não é que ontem no meio da madrugada, ou quase em uma calada da noite aconteceu quase que um milagre, ou se você preferir meu nervoso e brasilianista leitor eu queimei minha língua

Palavras em português soaram familiares e de uma maneira estranha me peguei prestando atenção em uma coisa que jamais imaginei fazer de novo: prestar atenção em uma banda nacional.

E eu já tive esse relance antes quando ouvi Garotas Suecas e Móveis Coloniais. Essa sensação boa de finalmente ter encontrado alguma coisa com que se identificar na sua terra natal. Eu amo rock inglês, mas eu não sou de lá. Não nasci em Penny Lane ou vi os Strawberry Fields passando debaixo dos meus pés. Não tomo chá das quatro e moro em São Paulo perto da Rua Alba, não tem Abbey Road aqui, apenas uma faixa de pedestres circundada por barraquinhas de ambulantes, um banco e um supermercado popular. Quando minha mãe me pariu ela o fez no Brasil, e aqui muitas vezes as bandas de rock nacional não conseguem fazer com que eu me sinta nascido nas ex terras lusitanas.

Esses acordes podres e funestos ou ainda qualquer revisitada no rock feita pelos gênios da mpb me parecem além de forçada muito chata. Odeiiiiooooooo você...

Mesmo porque não existe rock em dizer que você foi mó rata comigo.

Mas...

O SUPERGUIDIS, é uma banda gaúcha. Eu já torceria o nariz de cara porque o Humberto Gessinger também é de lá e ele é outra coisa que me desce mal. Mas minha ranzinice não chegou nem sequer a pensar nessa relação, porque fui tragado por entre sons britadeirísticos, mas ao mesmo tempo de uma beleza mostruosa. E isso aconteceu desde as primeiras notas de ROGER WATERS, música que abre o disco homônimo da banda que vazou ontem.

E chega até ser engraçado porque, em momento algum eu escutei o disco como se fosse um disco de rock nacional. Muito menos como se fosse uma cópia de algum lançamento hypado dentro do mundo "muderninho" feito pelos estrangeiros. Antes de mais anda o som da banda tem uma universalidade que mesmo cantada em português não faz diferença nenhuma. Quando a entrada de NÃO FOSSE O BOM HUMOR começa você sabe que já ouviu aqueles acordes em algum lugar, mas a música tem um poder tão grande e notas tão pesadamente vitais que são capazes de despertar um sorriso em alguém tão chato quanto eu. Não importa a língua, as referências são tão boas e necessárias que seu cérebro agradece.

Não sei se é pelo fato da banda ter seus pedais de efeito feitos por Lucas Pocamancha o guitarrista da banda que faz engenharia elétrica, mas o som do Superguidis (uma marca de tênis antiga) tem nuances que te dão essa sensação de conforto. Não um conforto pelo caminho da mesmice, mas sim por conseguir te fazer sentir que seu mundo respira notas em formas de oxigênio puro mas sem o maléfica oxidação de células. Escutar VISÃO ALÉM DO ALCANÇE é sentir-se em casa e perceber que quanto mais simples as letras mais seu coração entende como deve bater.
AS CAMISETAS tem uma característica que nesse disco é presente. Riffs que poderiam se encaixar em uma mesmice perigosa tem notas estratégicas que saem do comum. É rápida e do tamanho certo para te fazer olhar para o lado sem torcer o nariz.

QUANDO SE É VIDRAÇA tem guitarras matadoras. Riffs grudentos e batidas secas, palavras que não possuem rimas gratuitas e isso é uma coisa boa. Quando se quer muita rima o rock parece outra coisa que não ele mesmo. Mas a banda por não buscar as letras com toques de aula do professor Pasquale faz com que suas letras sejam além de assoviáveis ao extremo de uma beleza singela e mortal.

FÃ CLUBE ADOLESCENTE é exatamente isso. Talvez a mais descartável do disco, porque soa como a tentativa do Weezer de fazer algo mais popular. Mas como a música é rápida então nada se perde, apenas se transforma. E a introdução da música DE MUDANÇA mostra isso. De letra cinematográfica contando uma história de despedida e redenção com uma melodia que aos poucos vai se tornando um campo límpido e calmo por entre ventania forte de verão. Mas o grande lance desse som são os entrecantos proporcionados pela guitarra distorcida na medida certa.

CASABLANCA volta ao peso direto. Se as letras dos Arctic Mnkeys são confessionais, a prosa do Superguidis também é. Bem encaixada com uma pequena nota de fúria, simples e perfeita.

O USUAL, outra balada que tens tons gravados em pedra, muito pela letra da música. Terminar uma frase de música com as palavras o usual não é coisa de amadores. Para um fim de tarde sentado nos trilhos e fumando um cigarro, pensando em qualquer polaróide de vida.

NOVA COMPLETA e AOS MEUS AMIGOS formam um final de disco como a muito tempo eu não ouvia. A primeira novamente entra por terrenos mais calmos como se as guitarras carregasem a música nas mãos e a bateria fosse abrindo o caminho. Novamente a diferença se faz pelos solos inteligentes e não previsíveis.

A segunda caberia em qualquer coletânea de revista gringa, se igualando a trabalhos de bandas como o Bombay Bicycle Club ou o Dead Cab For Cutie. Passadas distorcidas e climas duplos e mais uma vez a letra é o diferencial, por não buscar o enfeite vazio. Simplicidade mesmo nos arranjos de violinos que fecham o disco do mesmo jeito que no início com Roger Waters. Uma volta completa, um ciclo cercado de frases e sons que te fazem esquecer que existem fronteiras e que sim, a beleza da música é universal.

Superguidis conseguiu uma proeza, fazer com que eu escutasse um disco nacional por mais de uma vez. Mas ele transcende o rótulo de rock nacional, pode-se dizer sem medo de errar que esse registro é do mundo.

Identificação precisa com sua terra, com seu peito e seu ventrículo esquerdo.

* Fabio Navarro é editor do blog Gangrena Diária, onde foi publicado originalmente o texto acima.

quarta-feira, 24 de março de 2010

“Superguidis” é um baita disco, e deve crescer horrores no palco

A síndrome do terceiro disco. Você já ouviu falar disso, certo? É mais ou menos assim: uns moleques se juntam, começam a tocar de farra, compõe uma série de músicas pelo prazer de compor e, então, gravam um disco. Depois outro. Aquelas músicas compostas despretensiosamente preenchem esses dois primeiros álbuns, e então a banda chega ao terceiro disco com a obrigação de compor material novo.

Muitas coisas entram na equação de um terceiro disco. Há profissionalismo agora. Há a expectativa (pessoal e pública). E há a convivência com a indústria, com os estúdios, com os shows, com os festivais, com os novos equipamentos. A rotina deixou de ser aquela do moleque que ia pra escola, brincava na rua com os amigos e depois se juntava para tirar um som. A inocência é deixada para trás. Olá, mundo adulto.

“Superguidis”, o terceiro disco da melhor banda sulista do rock brasileiro nos últimos anos, tem um pouco disso tudo, mas transpira inquietação, tristeza. As guitarras, marca registrada do quarteto, continuam altas e afiadas, mas as letras ficaram menos… pegajosas, diretas, irônicas. Algumas canções de “A Amarga Sinfonia de Um Superstar”, o segundo disco, já apontavam nessa direção, mas aqui tudo fica mais claro, ou, dependendo do ponto de vista, turvo.

Não a toa, na entrevista que você leu acima, Lucas Pocamacha fala em Tom Waits sete vezes. E também em arranjos de cordas. O rock adolescente dos dois primeiros discos começa a soar mais sério (e, não sei por que, me lembra “In Utero”, do Nirvana) no “Terceirão”, e a banda enfrenta a síndrome do terceiro disco jogando no colo do ouvinte canções poderosas para se ouvir, ouvir e ouvir. E não enjoar.

A bonita “Roger Waters” abre o disco de forma bundona, para usar uma definição de Lucas, com melodia lenta, um dedinho de órgão, cordas, e uma melancolia característica de quem aceitou que, enfim, “as coisas quase sempre acabam”. É um susto para quem esperava um esporro abrindo o disco, e mostra maturidade do quarteto. Emenda com “Não Fosse o Bom Humor”, que soa como “Mais Um Dia de Cão” em versão raivosa.

As músicas se alternam e o que se percebe de imediato é que as guitarras estão soando muito melhores. As letras, reflexivas, afastam um pouco o ouvinte imediato que saiu assoviando “Malevolosidade” e “Spiral Arco-Iris” na primeira audição. “Superguidis” é um passo a frente, um grande álbum, mas ainda assim deixa interrogações. Para onde vai o quarteto do Guaíba nos próximos discos? O que vem pela frente?

Dessa forma, a questão da síndrome do terceiro disco é deixada de lado. “Superguidis” é um grande álbum, mas soa como se fosse um disco de transição, como se a banda tivesse abrindo caminho para o quarto álbum, e este sim talvez seja “o” definitivo. A divisão da tarefa de composição entre Andrio e Lucas lembra Amarante e Camelo. Você nota quem compôs o que, e como isso funciona na química do grupo e o (trans)forma.

Tudo isso deixa o futuro em aberto. Se você está preocupado com o presente, acalme-se: “Superguidis” é um baita disco, e deve crescer horrores no palco, local que a banda domina. Porém, há uma cicatriz na alma do álbum que pede atenção e expectativa. É um pequeno detalhe que poderá passar despercebido, uma incomodação que pode render algo… clássico. Mas falamos disso no ano que vem. Agora, vale cantar/gritar: “Por que será que sempre chove toda vez que alguém te abandona?”.

* Marcelo Costa/Scream & Yell.

Harmonia na corrente elétrica

O rock de guitarras altas e melódicas jamais precisará respirar por aparelhos enquanto houver bandas como o Superguidis. Mesmo que elas apostem num lado mais harmonioso, como o faz agora (em partes) o quarteto de Guaíba (RS), persistirá a realidade de que o rol de canções intensamente ruidosas não caminha pra morte lenta e gradual.

Passando ao largo disso, o grupo gaúcho aproxima-se, inclusive, de idiomas, digamos, radiofônicos em seu recém-lançado terceiro disco, que leva apenas o nome do grupo e o carimbo da parceria Monstro Discos/Senhor F.

Faixas como “Usual” e “Nova Completa” têm cacife pra romper a surdez das estações com sua sinceridade na ponta dos instrumentos, menos letais e mais acessíveis, além de falarem ao coração de qualquer ser pensante, e não apenas aos adolescentes. Pois quem ficaria imune a versos como “por que será que sempre chove toda vez que alguém te abandona?”, de “As Camisetas”, faixa condutora de grandes referências indie dos anos 90 da banda, especialmente o cultuado Guided by Voices.

Por vezes, Superguidis realmente deixa transbordar um espírito juvenil, como em “Fã-clube Adolescente” e “Visão Além do Alcance”, mas é um impressão limitada pra uma banda que apenas diz as coisas de forma clara e direta. Além disso, não há como ignorar a maturidade instrumental exibida em “Roger Waters”, com sua leveza acústica, e o transe induzido por “Aos Meus Amigos”.

E para os que querem apenas ter os tímpanos estourados, os rapazes reservam “Não Fosse o Bom Humor” e “De Mudança”. Nesta, o vocalista Andrio decreta, afinal: “Eu não saio desse lugar”. Bom saber.

* Rubens Herbst (Orelhada)

terça-feira, 23 de março de 2010

Superguidis, sincera de maneira brutal e brilhante

É aí que a gente ganha a torcida: sendo sincero”, disse o vocalista do Superguids, Andrio Maquenzi, em entrevista a Rolling Stone desse mês. Ele provavelmente está certo. Desde surgiram para o mundo com “Malevolosidade” estourando nas caixinhas de som num distante início de 2006, – pense um tempo em que as pessoas ainda usavam Soulseek e acreditavam no Moptop, o Lúcio ainda escrevia a Popload na Folha, o Youtube ainda era novidade e o Twitter estava a um par de meses de ser parido – os Superguidis eram incríveis porque faziam rock simples, barulhento e deliciosamente inculto e imaturo. Era música que contrastava – e ainda contrasta – tanto com o refinamento universitário de Los Hermanos, Mombojó e Violins (esse último, por aproximação), quanto com o hedonismo sarcástico de editorial de moda de CSS, Bonde do Rolê e Rock Rocket. Era simplesmente difícil não se identificar com eles.

Passado pouco mais de um ano, o lançamento de “A Amarga Sinfonia do Superstar” definiria o que eram (e ainda são) os Guidis como banda, da capa à literal faixa-escondida “Riffs”. Como o próprio Andrio bem nota, os Superguidis eram e são sinceridade juvenil escrita com refrão e distorções. Carne, ossos e guitarras.

No entanto, o álbum apresentava uma face até então desconhecida dos garotos de Guaíba. Muito devido a produção do eterno Plebe Rude Philippe Seabra, os Superguidis tinham passado de uma espécie única banda da segunda-onda do lo-fi brasileiro para talvez o grupo de rock nacional mais certo de suas intenções artísticas (ser uma banda de rock, apenas). Muita gente não gostou dessa recém-descoberta polidez, alegando que a banda tinha ficado “madura demais” para o próprio bem.

O que nos leva a este capítulo. Filho de gestação longa e complicada – foi composto entre 2007 e 2008, gravado no início de 2009 e finalizado só no começo de 2010 – o terceiro álbum dos Superguidis é, de fato, a mais ambiciosa e bem acabada obra dos gaúchos. Um álbum tanto de reafirmação, quanto de expansão do que eles fizeram até aqui.

Apesar mostrar a banda em pleno domínio do seu jogo e em sintonia com suas ambições, talvez não seja correto concluir que este seria o “álbum maduro” dos Superguidis. Não é. Por mais bem acabado que possa soar, “Superguidis” ainda é juvenil. Um álbum no gerúndio. Amadurecendo, não amadurecidos, Andrio (cantando cada vez melhor) e Lucas ainda falam das mesmas coisas de 4 anos atrás – garotas más (“Casablanca”), desilusões (“Camisetas”), dia-a-dia de jovem proletário (“Quando Se É Vidraça”). Ainda sim, num movimento que vem desde o disco anterior, tudo é um pouco mais sério. Os medos são maiores (“O usual”, “Roger Waters”), os relacionamento mais profundos (“De Mudança”), o descontrole emocional mais explosivo (“Não Fosse O Bom Humor”).

Musicalmente essas grandes intenções resultam num álbum em que novos e velhos truques convivem em harmonia. A abertura, “Roger Waters”, é uma balada piano-e-cordas incomum ao repertório da banda (Pink Floyd, quem diria?), que serve introdução para explosão shoegaze-via-Billy-Corgan de “Não Fosse O Bom Humor”, a carta de intenções do disco. Sem dúvidas, a transição entre as duas faixas iniciais é talvez o momento mais arrebatador do rock nacional em muito tempo.

De novidade, ainda há a combustão lenta de “De Mudança” (que Andrio escreveu quando saiu de casa para morar com a namorada) e os sutis arranjos de cordas espalhados por “Visão Além do Alcance” e “Aos Meus Amigos”. As mudanças, no entanto, não significam que eles perderam a verve para escrever rocks simples e radiofônicos (que infelizmente ainda não tocam na rádio), como bem mostram “As Camisetas” (“por que sempre chove quando alguém te abandona?” é um refrão mais populista que eles já fizeram) e “Fã-clube Adolescente”.

“Aos Meus Amigos”, que encerra o álbum, talvez seja a que melhor defina a fase atual da banda. É uma meia-balada refrão simples e eficiente – apenas a frase “Melhor assim que eu não estou só” cantada sobre bela cama de guitarras – que se permite floreios épicos antes de por fim aos 34 minutos de disco. Não é exatamente triste, nem profunda, mas deixa transparecer que há uma seriedade e um senso de compromisso a espreita. Emociona sem esforço e é, como a própria banda, sincera de maneira brutal e brilhante.

* Livio Vilela (bloody pop)

segunda-feira, 22 de março de 2010

Guided by Guidis

Este será o ano do Superguidis. Dito isso, explico que escrevo, principalmente, estimulado pela leitura de um texto de Carlos Pinduca, vocalista e compositor do Prot(o), a melhor banda de Brasília depois de Legião Urbana, na minha modesta e convicta opinião. Em ‘A encruzilhada dos Guidis’, publicado no blog do músico e na seção de colunas de Senhor F, Pinduca analisa o novo single da banda gaúcha e aponta três possíveis caminhos a serem seguidos pelos guris de Guaíba.

Peço desculpas se minha análise for superficial, mas o texto de Pinduca parece dizer, resumidamente, que resta à banda ou o fim, devido à falta de um reconhecimento mais amplo; ou uma adaptação estética para se inserir em um esquema maior e, assim, garantir o sustento da carreira; ou – e esta é uma possibilidade na qual o autor não parece acreditar muito – seguir um caminho lento, de consolidação da carreira por meio da força de sua obra.

Escrevo agora porque acredito que a terceira opção não só será aquela que os Guidis irão seguir como, acrescento, acho que eles já a realizaram. Daqui a alguns dias, poderemos todos ouvir o terceiro (terceiro!) disco de uma banda formada em 2003. Eu, por causa da posição privilegiada de integrante do selo Senhor F Discos, já tive a oportunidade de ouvir o CD e estou certo de uma coisa: 2010 vai consolidar o Superguidis como uma das bandas mais importantes do meio independente brasileiro.

O que quero dizer com isso? Na prática, que eles terão um público maior do que já possuem; darão uma razoável garantia aos produtores de shows e festivais de que, ao serem contratados, garantirão um público considerável; e, consequentemente, poderão cobrar um cachê legal para tocar Brasil afora. Ou seja, não digo que os Guidis se transformarão em uma banda do nível comercial de... sei lá, Pitty ou Skank. Mas acho que eles atingirão um patamar de nome de destaque na cena independente, o que não é pouco. Aliás, hoje em dia, é tudo.

E o melhor é que isso, no caso dos Guidis, tem tudo para ser o começo de uma fase brilhante e ascendente. Porque o garoto (ou garota) desavisado que for capturado pelas músicas do terceiro disco vai poder ir atrás e descobrir uma banda que já compôs obras assustadoramente sintonizadas – emocionalmente e socialmente – com a juventude brasileira do fim da primeira década do século 21.

Se estou errado, me diga qual banda compôs algo como ‘Mais um dia de cão’ (a realidade de um jovem de classe média baixa que sabe o peso de correr atrás da sobrevivência), ‘Spiral arco-íris’ (um momento terno e apaixonado, lindamente cotidiano, desse mesmo jovem ao presentear alguém de quem gosta com um simples presente de camelô), ‘Discos arranhados’ (cujo verso “Sem dinheiro é foda à beça, você e eu” já diz tudo) etc. etc. etc.?

Isso e muito mais está à espera do público que se apaixonar pela guitarra furiosa de ‘Não fosse o bom humor’ e pela combinação de grunge com a poesia cotidiana que remete ao Renato Russo de ‘O descobrimento do Brasil’ que é ‘Não saio desse lugar’. Sem falar do refrão grudento de ‘As camisetas’ (“Por que será que sempre chove toda vez que alguém te abandona?”), que deve garantir muitos novos fãs à banda.

Justamente por já ter mostrado consistência roqueira e poética em três discos, os Guidis vão firmar definitivamente seu espaço no independente brasileiro. E, a partir daí, mostrar, pra quem ainda não conhece e pra quem ainda não percebeu, o quanto são (desculpem o termo pouco elaborado) fodas. O que virá depois disso ninguém sabe. E é porque hoje em dia não dá mesmo pra saber como as coisas serão. Mas dá pra dizer que elas serão como o caminho que os Guidis vão trilhar. Seja qual for. Seremos Guided by Guidis. Essa é minha aposta.

* Beto Só é músico e jornalista, autor dos discos "Lançando Sinais" e "Dias Mais Tranquilos", ambos lançados por Senhor F Discos. É colunista de Senhor F e publica o "Blog do Beto Só", onde também foi editado originalmente este texto (antes do lançamento disco).

sábado, 20 de março de 2010

Terceiro disco posiciona e consolida carreira dos Superguidis na cena independente

A banda Superguidis realiza o lançamento nacional de seu terceiro disco, em versão física e virtual, neste dia 20 de março, com show em Santa Maria (RS), no Macondo Lugar, responsável pelo festival independente mais importante do estado. Na semana passada, o disco "vazou" na internet, informação que ocupou o "Trending Tops" do twitter brasileiro, fato inédito no meio independente naconal. Nas sequência, as resenhas do disco saudaram o lançamento positivamente, em matérias como a do site Nagulha, que definiu a banda como "os poetas da geração twitter".

O álbum traz 11 canções assinadas por Andrio Maquenzi e Lucas Pocamacha (veja abaixo o setlist) – Superguidis é Andrio (vocal e guitarra), Lucas (guitarra e vocal), Diogo Macueidi (baixo) e Marco Pecker (bateria). O disco vem assinado pelos selos Senhor F (casa da banda desde a estréia, em 2006) e por Monstro Discos, o maior dos independentes nacionais. Acompanha o disco de estúdio um cd-bônus com o registro de show acústico realizado no Cultura Rock Club, em Porto Alegre, em maio de 2009. A produção é de Philippe Seabra, com mixagem do americano Kyle Kelso e masterização de Gustavo Dreher. A arte é de André Ramos.

O novo disco aponta para a consolidação da banda no cenário independente nacional como uma das mais criativas e produtivas entre as revelações dessa segunda metade da década que passou. Fiel e, de certa forma, parceira na construção da platafaforma independente, a banda gaúcha também tratou a internet como grande aliada. Com isso, tornou-se conhecida nacionalmente, o que abriu as portas dos festivais e casas de shows, do que é exemplo a largada da turnê pelo Norte e Centro-Oeste do país, com shows em Manaus, Porto Velho, Ji-Paraná e Vilhena, Cuiabá, Goiânia e Brasília.

Além de ter seu disco de estréia figurando em listas de melhores da década, e de ter seu show considerado um dos destaques do rock atual, a banda desenvolveu uma sólida carreira discográfica. Segundo eles, além da circulação, e do constante aprimoramento dos shows, discografia e repertório autoral são fundamentais para afirmar a banda no cenário independente nacional. O disco-bônus contendo show acústico (veja abaixo) é demonstração da quantidade e da qualidade de hits acumulados pelo quarteto. Apenas duas canções, dos conterrâneos Prozak, não são de autoria da banda.

Sempre destacada por produzir "indie em português", neste terceiro disco o grupo afirma definitivamente sua linguagem particular, por meio de flashes poéticos e desencanados, identificada com uma visão de mundo do jovem suburbano desses novos tempos. Natural de Guaíba, cidade operária e dormitório de Porto Alegre, a banda traduz de forma universal o cotidiano do jovem que anda de ônibus/metrô, tem a "simplicidade de um tênis furado", faz uma faculdade pelo ProUni, mas que, mesmo com internet discada, corre atrás de informação.

O novo disco também premia as escolhas e estratégias de carreira da banda, que afirma-se no cenário nacional apostando na plataforma independente, sem afastar-se de sua realidade vivencial. A parceria dos selos Senhor F e Monstro Discos, assim como a presença de Fabrício Nobre (Macaco Bong, Black Drawing Chalks & Lucy and The Popsonics) como seu novo agente nacional, fortalecem o potencial de crescimento da banda, que conta com público em todas as regiões do país. (Redação/Senhor F)